terça-feira, 25 de setembro de 2007

Tio Patinhas não perde tempo

Como excelente aluna, a Rússia aprendeu bem rápido as regras do capitalismo. E não perdeu tempo: já percebeu em como lucrar com o aquecimento global, em não é com o plantio de árvores ou com a produção de painéis solares.


É o degelo do Ártico que deixa os russos tão ouriçados, conforme informa Dominique Koop, da Le Monde Diplomatique. Mas creio que não cabe a nós demonizar os russos, pois sua atitude de reivindicar a posse do Ártico após estudos revelarem a riqueza de seu solo (petróleo e ouro pra começar) não é diferente dos outros caçadores capitalistas (leia-se EUA, China, Japão, Canadá e afins).

Eles apenas foram mais espertos. E mais rápidos.

É óbvio que os seus “companheiros” teriam feito o mesmo se pudessem ter sido mais eficientes.

Em juridiquês, assim se explica a questão:

Localizado em águas internacionais, o Pólo Norte pertence a todo o mundo — portanto, a ninguém. É regido pela Convenção Internacional do Direito do Mar, da Organização das Nações Unidas (ONU), que declara serem os fundos marinhos, situados além das jurisdições nacionais, “patrimônio comum da humanidade”.

Assinada em 1982 e ratificada no final de 1994, essa convenção estabelece a soberania de um país, na superfície do mar, em 12 milhas marítimas (22,2 km), contadas a partir da costa. Também considera como sua zona econômica exclusiva (ZEE), incluindo os recursos submarinos, uma faixa maior, de 200 milhas (360 km).

No entanto, essa zona pode ser ampliada se os limites externos da plataforma continental se estenderem mais além. Portanto, se conseguir demonstrar que a Dorsal Lomonosov – cadeia submarina de 2 mil quilômetros, que se estende sob o Pólo Norte, ligando a Sibéria à ilha canadense de Ellesmere e à Groenlândia – é geologicamente russa, Moscou poderá explorar esses fundos marinhos. Além do prestígio, da proeza científica e tecnológica, há substanciosos interesses econômicos e geopolíticos em jogo.

Um estudo da agência governamental norte-americana US Geological Survey estima que 25% das reservas mundiais de hidrocarbonetos estão localizadas ao norte do círculo polar . Um novo eldorado, que os países costeiros – Rússia, Estados Unidos, Canadá, Noruega, Dinamarca, Finlândia, Suécia e Islândia – poderiam reivindicar e explorar, sob condição de que sua plataforma continental entre no jogo de extensão territorial.

Durante muito tempo, a Rússia foi a única a tentar fazer valer os seus direitos. Em dezembro de 2001, Moscou já tinha formulado uma primeira petição à Comissão sobre a Delimitação da Plataforma Continental da ONU, que, por sua vez, requereu estudos complementares. Foram estes que resultaram no espetáculo Mir 1 e Mir 2. Até então, a comunidade internacional não via nenhum interesse econômico nessas imensidões geladas. Mas os recursos mundiais de gás e petróleo estão se esgotando, e o aquecimento do planeta torna o Pólo Norte potencialmente mais viável.”

Mais um pouquinho...

"Os Estados Unidos, que estimavam produzir apenas 30% de seu consumo de petróleo em 2015 – contra 70% produzidos hoje –, preparam-se para apresentar um requerimento a fim de estender sua zona costeira por 600 milhas (965 km), a partir do litoral do Alasca. Porém, um “iceberg” de porte bloqueia seu caminho: eles não ratificaram a Convenção do Mar da ONU, sem a qual qualquer reivindicação territorial é inadmissível. É por isso que o governo George W. Bush apressa-se em fazer dessa ratificação uma prioridade.

Enquanto isso, uma expedição norte-americana tomou o rumo do Pólo Norte. E outra, norte-americano-norueguesa, explora a Dorsal de Gakke, situada entre a Sibéria e a Groenlândia.

Em 12 de agosto, a Dinamarca enviou uma equipe de cientistas para tentar provar que a Dorsal de Lomonosov é uma extensão da Groenlândia. Essas operações também integram a agenda do Ano Polar, sob a nobre justificativa de reforçar a pesquisa científica e desenvolver a cooperação internacional. O interesse científico é real. Mas o interesse econômico é ainda mais. Aliás, a última cúpula do G8 foi bem clara, ao reunir, em uma mesma sessão de trabalho, a discussão sobre as mudanças climáticas e a utilização dos recursos naturais."

Há ainda a questão das rotas marítimas. A matéria completa está disponível no site e na edição deste mês da revista.

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