sexta-feira, 4 de abril de 2008

Hoje...

A primeira vez que li Manoel de Barros foi na escola, por obrigação. Tanto a professora explicou que acabei me apaixonando. O tempo passou e eu acabei me esquecendo... Agora, o redescubro. E é melhor do que da primeira vez, pois além da poesia, do lirismo que nos passa desapercebido, encontro nele também um poeta da natureza.
Num dia sem idéias, resolvemos fazer uma homenagem ao poeta do desimportante. Ele sem dúvida olharia ao seu redor e saberia o que escrever. Falaria sobre romãs, cachorros, azaléias, carrapatos... enfim, falaria sobre tudo que é matéria de poesia.


Uma para aqueles que não conhecem a sua Matéria de Poesia:

À margem das estradas
Secavam palavras no sol como os lagartos
Passavam brilhantina nos bezerros. E
Transportavam lábios de caminhão...

E uma que eu amo:

Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas
leituras não era a beleza das frases, mas a doença delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,
esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
- Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável,
o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.
O Padre falou ainda:
Manoel, isso não é doença, pode muito que você carregue
para o resto da vida um certo gosto por nadas...
E se riu.
Você não é de bugre? - ele continuou.
Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios,
não anda em estradas –
Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas
e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma.
Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de gramática.

Nenhum comentário: